Quando eu morava no sudoeste de Londres, eu ia para o trabalho diariamente de bicicleta. Especialmente durante o inverno, quando a temperatura matinal pode ser tão baixa quanto -3 graus Celsius, eu questionava se realmente valia a pena pedalar por 25 minutos para chegar ao trabalho, com algumas alternativas no meu leque de escolhas: dirigir, pegar um ônibus ou um trem. Mas sempre que esse duelo se travava na minha mente debaixo do edredom quentinho, eu lembrava de dois homens, que jamais conheci, mas cujos caminhos se cruzavam com o meu diariamente.
Todos os dias eu via um homem ciclista que claramente tinha algum grau de paralisia corporal, além de não possuir um dos braços. Ele me dava bom dia todos os dias na ciclovia enquanto pedalávamos em direções opostas. Em uma dessas manhãs de duelo e tortura mental, a preguiça me venceu, e eu dirigi até o escritório em um dia de chão escorregadio por causa do gelo da madrugada. Enquanto eu estava parada no semáforo, ele passou pedalando, como sempre, como se fosse uma manhã quente de verão. Nada a reclamar. E eu gritei dentro do carro, FALA SÉRIO! O outro homem, com uma paralisia ainda mais severa, corria com minha dificuldade motora todos os dias na ciclovia, mesmo debaixo de chuva. Sempre que eu criava desculpas para não me mexer: não tenho tênis, não tenho tempo, não tenho roupa, não tenho como acordar cedo, não tenho como correr depois do trabalho, não tenho fone de ouvido, não tem parque perto de casa, não tenho dinheiro para academia, não tenho espaço para malhar em casa etc., eu lembrava deles.
Esses dois homens moram de graça na minha mente, e todas as vezes que começo a repetir mentiras para mim mesma, eles me forçam rever minha postura, minhas desculpas, e me dão uma dose de motivação, eles provavelmente jamais saberão que são minhas fontes constantes de inspiração.
McLanche da Opressão
Esses homens deveriam ser representantes do Movimento pela Aceitação do Corpo (M.A.C.), um movimento que deveria celebrar a beleza e a força dos corpos humanos, mesmo em meio a tanto infortúnio. Mas não são… Desde que esse Movimento recebeu a chancela do wokeísmo, o M.A.C. se tornou um verdadeiro McLanche da Opressão, focado em obesidade e vitimismo, uma combinação que explora a vulnerabilidade daqueles que não conseguem romper com essa condição, e que por isso resolveram sentar na cadeira mais confortável da sala, e dela nunca mais se levantar.
Ser obeso se tornou uma identidade política coletiva, que emprega as mesmas estratégias de outros movimentos: a criação de verdades paralelas que eles deram o nome bonito de mininarrativas, e a constituição de um status coletivo de vítima. Mas mais do que isso, assim como o Transgenerismo, o Movimento pela Aceitação do Corpo passou por um processo de queerização filosófica, no qual “verdades” subjetivas possuem mais valor do que verdades científicas.
O Movimento de Aceitação do Corpo tinha tudo para ter um impacto incrivelmente positivo na vida de muitas pessoas. Uma celebração de tudo aquilo que o corpo humano é capaz de fazer e de ser. Uma reconexão com os valores humanos que mais importam, e um retrato de resiliência e de superação de preconceitos e inseguranças. Uma forma de ocupar o mundo dizendo: essa é a minha forma humana, esse é o meu corpo, nasci assim, ou por circunstâncias diversas na minha vida (como acidentes, ataques, problemas de saúde etc), sou assim.
Pernas não crescem de novo. Tetraplégicos não levantam da cadeira pela força do desejo interno. Não basta tomar Biotônico Fontoura para pessoas com nanismo crescerem, e marcas de nascença, que podem ser grande fonte de desconforto e insegurança em um mundo de Photoshop e filtros, não desaparecem ao toque de um botão. A esses, resta um olhar profundo de si mesmos diante do espelho, e a tomada de uma decisão: esse sou eu, vou parar de desejar que minha forma fosse diferente, vou me aceitar, mas mais do que isso, eu vou me engrandecer, e vou mostrar para mim mesmo que a vida é maior do que as minhas limitações físicas, ou que minha aparência atípica faz parte de quem eu sou. Nada disso é a minha fraqueza, pelo contrário, esse sou eu, e essa é a minha força.
Que mensagem poderosa para pessoas de diferentes corpos! Com essa mensagem, esse movimento poderia ajudar a construir a autoestima de adultos e crianças, que talvez ainda estejam na fase da inquietação, da negação, e da reprovação interna. Mas não... O M.A.C. orbita em torno da obesidade, que virou o seu principal, se não, único, ponto de análise. Eu não estou dizendo que esse movimento era antes mais diverso e honesto, estou descrevendo tudo que ele poderia ter sido, e nunca foi. Desde a sua fundação nos anos 60, o Movimento Positividade do Corpo (Body Positivity) sempre teve como principal foco de crítica e análise a forma como pessoas com corpos gordos são tratadas, e quer saber, não acho o debate inválido, apenas acho que esse não deva ser o fulcro do movimento, pois com isso deixam diversos grupos de fora.
Não vejo problema em pessoas gordas se organizarem e exigirem respeito e dignidade. O meu problema é que com a fusão da agenda queer e da agenda LGBT com esse movimento, nascem demandas e subterfúgios que são um desserviço social, e um perigo para a população mais jovem que sempre será mais suscetível a esses discursos ditos descontruídos.
SER GORDO NÃO É LEGAL!
Antes de mais nada, ser gordo não é legal, e por legal, eu me refiro a positivo. Nada pode ser extraído desse poço. Obesidade está matando pessoas. PONTO FINAL. Recentemente, influenciadores do movimento que celebra gordura (fat celebration) têm morrido na faixa dos 30 anos de idade. Embaixo, vê-se Jamie Lopez, que morreu aos 37 anos em decorrência de problemas no coração.
Ativistas/ influenciadores desse movimento frequentemente promovem que corpos gordos são saudáveis, rejeitando o acúmulo de décadas de estudos que mostram os efeitos nefastos que a gordura tem no corpo humano. A conversa foi deslocada de “vamos tratar pessoas gordas com dignidade” para “corpos gordos são saudáveis”, e por isso novas hashtags subiram, migrando de positividade (positivity) para aceitação (acceptance), para finalmente, estacionar em celebração (celebration).
Essa mudança filosófica negligenciou um fato amplamente replicado em estudos: o excesso de gordura no corpo promove níveis severos de inflamação, e por mais que pessoas obesas possam sim parecer saudáveis em um exame simplificado de sangue, é como colocar um carro em uma ladeira sem freio e não esperar que ele colida em algum momento. Ser obeso é entrar e permanecer na rota errada, pois obesidade está associada à artrite, a câncer, a diabetes, a problemas do coração, a doenças degenerativas, e mesmo à infertilidade; e é por isso que esse encorajamento para que as pessoas permaneçam gordas é para mim uma política de depopulação. Pessoas gordas não apenas possuem menor expectativa de vida como também possuem menor chances de produzir novos seres humanos. Por isso, não acredite na celebração de corpos obesos, essas pessoas pensam que estão sendo livres, autênticas e anti-normativas, mas apenas estão sendo usadas por grupos corporativos que possuem suas agendas próprias, o lucro, o vício, a comorbidade, e a morte.
Além da promoção de ideias como “corpos gordos são saudáveis”, “todos temos formas diferentes”, e “ser gordo é apenas mais uma delas”, vemos também a tentativa de criar um véu de proteção identitário. A percepção de que sofrem opressão sistemática daria a essas pessoas passe-livre para serem, inclusive, desagradáveis. A cantora Thais Carla, que apesar de cantar “se não é seu corpo, você não tem que opinar”, opinou sobre o corpo da ex-modelo Gisele Bündchen, dizendo que parecia uma tripa e folha de papel. Nesse caso, ela está abrindo uma brecha para ser medida e pesada com a mesma régua e balança, por isso, não vou mentir, não me importo quando as pessoas são desagradáveis com ela de volta. Eu continuo avaliando cada caso individualmente, sem me render a essa demanda de proteger todas as pessoas de forma igual como um coletivo vitimizado.
O vitimismo é um passaporte especial, cujo portador recebe proteções sociais, mesmo quando age de forma deplorável. O vitimismo se tornou uma moeda política e um escudo mágico . Um homem preto, após ser acusado de assédio sexual contra mulheres em diversas circunstâncias, protege-se por trás do véu do racismo, um homem transidentificado que profere ataques misóginos contra uma mulher se diz vítima de transfobia, e um homem gordo emplaca gordofobia sempre que possível. Fazem isso até em consultas médicas, porque ser confrontado com a dura realidade de que você é o autor da sua própria novela e que precisa fazer algo por você mesmo é um conceito que falsas vítimas não estão dispostas a engolir.
O status coletivo de vítima concede também o prazer de silenciar pessoas. Como ninguém em sã consciência quer ser percebido publicamente como algoz, o brasileiro segue debochado na internet dizendo coisas como “em silêncio me deito, sem processo me levanto”, ou “não tenho advogado para isso”. Isso é sintomático do medo encoberto que todos possuem de dizer que o de fato pensam. Particularmente, eu não saio da minha rota simplesmente para deixar um comentário malcriado sobre o peso de alguém na internet, mas me incomoda ver posts enganadores que espalham desinformação online, cujos exemplos darei em breve.
Não é interessante? Aos “oprimidos”, tudo, aos “opressores”, nada. Se você é percebido socialmente como um grupo opressor, nesse caso, seu direito de fala foi revogado permanentemente! Por isso é justificável ofender a Gisele Bündchen e fazer piada com o formato do corpo dela, pois uma mulher rica, branca, loira e de olhos azuis desfruta de uma posição de privilégio na estrutura de poder que justificaria o ataque.
Outro aspecto desse status vitimista é a demanda de que o mundo ao redor passe a validar o seu próprio estilo de vida, uma tentativa preguiçosa de transferir para o outro a responsabilidade pelas suas próprias escolhas individuais. Certa vez, eu brinquei com um colega o culpando por algo que eu tinha esquecido, “você não me avisou que era aniversário dele ontem”, e ele retrucou às gargalhadas, “okay, me desculpe, eu me responsabilizo 100% por suas ações”. E não é exatamente isso que o wokeísmo espera dos outros? Algumas pessoas vão tão longe quanto exigir dois assentos em um avião.
Como uma pessoa que nunca foi obesa, mas que conviveu e ainda convive com pessoas obesas, sei que o tema precisa ser tratado com compaixão e seriedade. Toda essa conversa de coma menos e se mexa mais, embora seja verdade, não parece ser a melhor abordagem para todas as pessoas. Há um elemento psicológico muito forte no ato de comer por compulsão, como um mecanismo de enfrentamento para dores, medos, e mesmo lembranças traumáticas. Por isso, penso que o tema precisa ser tratado com amabilidade, mas jamais distante da verdade. Validar mentiras é o modus operandi do wokeísmo, e quando há convergência de várias pautas woke intragáveis, cria-se uma bola de gato de mentiras que entala as relações sociais. Por exemplo, o M.A.C. incorporou o lado wokeízado do movimento antirracista, e sua frequente obsessão com sistemas de opressão. A fusão desses movimentos resulta em ideias como dieta é coisa de branco, praticar exercícios é supremacia branca, acordar cedo é enraizado em supremacia branca, vamos decolonizar o menu, e surtos semelhantes.
Há uma ativista nutricionista negra no Tiktok que começa seus vídeos falando “coisas que eu digo como uma nutricionista negra”. É a necessidade de localizar o seu grupo identitário antes de qualquer coisa, pois é assim que o wokeísmo organiza a vida social. Porém, nenhuma pauta fundiu com esse movimento tão perfeitamente quando a pauta queer, e é com isso que finalizo o texto de hoje. Já percebeu como ativistas gordos agora se declaram como queer? É uma forma de politizar o seu próprio corpo como um instrumento de resistência aos regimes do normal (David Halperin, um dos autores pioneiros dos textos queer). Eu não sou gordo! Eu sou anti-normatividade, anti-opressão, anti-magro, antirracista, anticolonialista. Eu sou queer.
A QUEERIZAÇÃO DO “BODY ACCEPTANCE”
Meu artigo não é apenas para pessoas com formação nas áreas humanas ou sociais, logo, vou tentar simplificar ao máximo o pós-estruturalismo presente nos textos queer, o que pode incorrer em reducionismo, mas creio que será suficiente para oferecer uma membrana de conhecimento para que eu possa apresentar esse processo de queerização.
Jean-François Lyotard foi a pessoa que cunhou pelo primeira vez o termo pós-modernismo em 1979. Nesse livro abaixo, ele desenvolveu pós-modernismo (o guarda-chuva que acolhe o pós-estruturalismo) como uma incredulidade das metanarrativas, e que para não reproduzir violência e opressão, as metanarrativas (inclusive e talvez principalmente, as do campo científico) deveriam ser substituídas por mininarrativas individuais, que priorizariam as verdades pessoais. Esse mundo de Lego e faz-de-conta de Lyotard é muito lindo no papel de cartolina. Obviamente, um mundo onde a subjetividade das pessoas seja usada como parâmetro para organizar a vida social e política nasce fadado ao fracasso, pois opiniões e sentimentos são mais voláteis que álcool 70%, e mais volúveis que coração de adolescente.
Michel Foucault, outro autor pós-estruturalista, discutiu muito ao longo da sua vida acadêmica a existência de micropoderes, enfatizando como a posição dos indíviduos na escala de poder define a presença delas no mundo. Tudo atravessa essas relações de poder, inclusive a linguagem, e daí floresce o interesse em mudar a linguagem para tornar o mundo um espaço seguro para todos, em especial, para os mais sensíveis, que usam essa desculpa para validar suas ilusões. As pessoas ficam tão obcecadas com ideias como microagressões, que passam a ver microagressões em tudo. Vi um vídeo no qual uma mulher negra reclamava que a sua chefe a havia elogiado depois da condução de uma reunião, algo que ela chamou de microagressão, pois, segundo ela, sua chefe não teria feito o mesmo se fosse com uma pessoa branca. Essas ideias aprofundam a mentalidade de vitimismo, e convidam as pessoas a aceitar a sua pior versão como livre, combativa, anti-alguma coisa, desconstruída, termo, por sua vez, cunhado por outro intelectual pós-estruturalista, Jacques Derrida. Essa noção de poder e opressão alimenta diferentes correntes de estudo, como os estudos de gênero, de raça e de pós-colonialidade (nessa ordem, vocês podem identificar claramente essas ideias em Judith Butler, Kimberlé Crewshaw e Edward Said).
A corrente de pensamento pós-estruturalista não pratica ciência nos moldes tradicionais. Leia-se não pratica ciência alguma. Para os autores dessa escola, a ciência se estabeleceu a partir da opressão de grupos, do silenciamento de oprimidos a favor de uma narrativa global que ignora os interesses, os saberes, e as verdades das minorias. Ciência é uma forma de linguagem, e a linguagem é, para eles, um instrumento de opressão. O homem heterossexual branco teria usado a ciência para legitimar seu ódio e seu preconceito, a partir da imposição do seu modo normativo de interpretar o mundo. Muito se resume à ideia de que o homem branco é mau, portanto, toda a produção científica é má. Daí emerge todo o desprezo que os textos queer regurgitam sobre o método científico, e é por isso que fatos científicos estão sendo gradativamente substituídos por narrativas paralelas que centralizam o argumento em torno de sentimentos ou opiniões, ao invés da lógica e da razão como métodos de estudo. No momento em que a agenda queer e a agenda da aceitação do corpo se tornaram uma coligação, houve o abandono de qualquer noção de verdade ou bom senso. Tudo se transformou em construção social!
Tess Holliday, uma mulher obesa, teve a audácia de dizer em uma entrevista, que sofre de anorexia, um desrespeito com as pessoas que de fato travam uma batalha com esse transtorno. Segundo ela, “mesmo transtornos não discriminam”, sim, porque até os transtornos precisam ser inclusivos.
Na minha antiga academia, tinha uma jovem moça que visivelmente sofria de um transtorno alimentar, pois eu gastava 2 horas me exercitando, e todos os dias eu chegava, e ela já estava em cima do elíptico, eu ia embora, e a ela continuava no mesmo aparelho. Ela era tão magra que os ossos dos quadris, cotovelos e joelhos eram visivelmente pontiagudos, e havia um vão impressionante entre suas pernas. É um desaforo e um desserviço que uma mulher do tamanho de Tess Holliday ganhe plataforma para dizer uma mentira dessa apenas para obter atenção e acumular mais pontos de opressão.
Outra mentira amplamente explorada por ativistas é a ideia de que não importa o seu peso/ tamanho, se você se exercitar, você será saudável. Como consequência, agora temos muitos influenciadores fitness obesos, que ao invés de dividirem a sua jornada de superação para perder o excesso de peso, vendem a ideia de que são saudáveis apenas porque fazem 3 séries de 10 repetições na cadeira extensora ou 45 minutos de ioga. Há uma pletora de estudos que indicam o contrário, não existe uma rotina de exercício físico que seja capaz de desfazer os efeitos negativos de uma dieta ruim (Fonte: Debunking the myth: exercise is an effective weight loss treatment. PMID: 2539030), mas essa é a verdade que os influenciadores não gostam de contar.
As mentiras não terminam, mas o texto já está muito longo, só quero enfatizar que o ajuntamento da agenda queer com o M.A.C. permitiu aos influenciadores obesos se desconectar por completo da realidade, pois através do foco em mininarrativas, vê-se a morte da discussão científica em torno da obesidade. Ser gordo deixa de ser um problema médico, e passa a ser mero fruto da gordofobia sistêmica que assola todos os sistemas sociais e culturais. Se pararmos de ver corpos gordos como corpos problemáticos, eles deixarão de ser problemáticos, pois é o nosso preconceitoso que nos impede de ver o óbvio: ser gordo é ser autêntico, sexy, saudável, e libertador. Com isso, vemos a escalada de frases piegas que apenas produzem ruído e se distanciam da única conversa que importa: obesidade é um problema médico. Sentenças como “sou gordo e tenho mais saúde que muitos magros”, “pessoas gordas merecem amor”, “pessoas gordas não te devem nada”, são apenas alguns exemplos.
Por que essas pessoas parecem incapazes de propor uma conversa moderada sobre os assuntos? Por que fomos do culto à magreza extrema das passarelas para o culto à obesidade? Porque é sobre RADICALIZAR! O wokeísmo foca na radicalização das mentes (e corpos), e por isso, o diálogo com essas pessoas é tão difícil. São livros como esse abaixo que essas pessoas consomem, livros que dizem tudo o que elas querem ouvir para continuarem estacionadas em sua mentalidade de subjugação sob a desculpa de que isso é uma forma de “liberação”.
Ao inves de focar no aspecto da saúde, cujas evidências já são robustas, distanciam-se da ciência e centralizam o argumento em torno da validação, do amor, dos direitos humanos, da dignidade, do direito de existir, da opressão etc.
É curioso que há vários outros grupos que poderiam ser incluídos no Movimento de Aceitação do Corpo, cuja materialidade não pode ser alterada. Não estou sequer sugerindo que eles queiram ser diferentes, só estou atestando um fato. Uma pessoa com vitiligo não deixa de ter vitiligo se ela acordar cedo, fizer exercícios, comer adequadamente, e receber acompanhamento psicológico. Pessoas obesas, sim. Esse grupo é talvez o único capaz de mudar a sua forma física, mas escolhe o caminho mais fácil, o da vitimização e da responsabilização alheia pelas suas próprias decisões ruins.
“Pessoas gordas não te devem nada!” Esse é o mesmo motto usado por pessoas que se declaram trans. “Trans people don’t owe you anything”. E não devem mesmo. A ideia de que uma pessoa gorda te deva satisfação sobre seu próprio nível de colesterol ou sensibilidade à insulina é provinciana. Pessoas gordas não são obrigadas a informar se elas possuem ou não um problema, quantas calorias ingerem, tampouco quantos passos dão diariamente. A ideia de que repentinamente todas as pessoas magras estejam preocupadas com a saúde de pessoas gordas é, vamos combinar aqui, burlesca e condescendente. Mas a insistência por validação só mostra o quão essas pessoas não gostam da sua própria forma, e ao invés de admitirem isso, tentam forçar os outros a vê-los da forma como não são. Roseanne Barr disse uma vez: “Está tudo bem ser gordo. Ok, você é gordo, e daí. Então, apenas seja gordo e cale a boca.” É bem isso, seja gordo, só não me obrigue a te achar nem saudável, nem especial, nem oprimido, nem atraente.
Muito obrigada por terem ficado comigo até o final, e eu os vejo no próximo artigo. Caso você queira e possa, considere se inscrever e apoiar o meu trabalho.
Com carinho, Nine.
Infelizmente a posição de vítima é encantadora e muita gente se deixa levar. Enquanto vítima, você recebe apoio, atenção, palavras de autoestima etc. Então, nenhuma arma manipula tanto a mente das pessoas quanto a que as colocam na posição de vítimas. É tudo que alguém com carência e baixa autoestima quer. O movimento woke entendeu isso e explora de todas as formas.
Muito obrigada por esse conteúdo incrível.